El Chaltén, ou sobre quando achei ter encontrado o paraíso

Mirador da Laguna Torre
Mirador da Laguna Torre

Originalmente publicado em http://www.travelblog.org/South-America/Argentina/Santa-Cruz/El-Chalten/blog-242855.html


Em poucas palavras: uma cidade com menos de mil habitantes, dois campings gratuitos, ao pé do Fitz Roy e Cerro Torre (duas paredes cobiçadas por escaladores do mundo inteiro) e perto de um dos maiores campos de gelo da Terra. Se não fosse o Xuxa lembrar que não temos dinheiro para viajar para sempre e que ainda queremos ir para Mendoza, acho que ficaria por lá até o fim da temporada.

No entorno da cidade existe uma diversidade enorme de trilhas a serem exploradas, desde caminhadas de apenas um dia à expedições de cerca de um mês. As duas trilhas mais percorridas (e também duas das mais fáceis) sejam a da Laguna Torre, mirador do Cerro Torre, e a da Laguna de Los Três, mirador do Fitz Roy. Ambos são caminhadas muito bem demarcadas de exigência fìsica baixa.

Fizemos as duas, a da Laguna de Los Três fizemos de madrugada, saímos do acampamento à 1h e chegamos no mirador às 5h. O percurso iluminado pela lua cheia foi fantástico e no topo pudemos presenciar por volta das 7h o nascer do Sol, quando por alguns minutos o Fitz Roy fica vermelho (fotos no post do Xuxa). De lá emendamos outra trilha e fomos para o Rio Elétrico subir o mirador do Glaciar Pollone, porém estávamos sem dinheiro e nos esquecemos que o mirador fica dentro de uma propriedade privada onde os donos cobram uma taxa pela entrada. Além disso, tínhamos que voltar para a estrada para pegar no começo da noite o ônibus que nos levou de volta para a El Chaltén.

Depois que o Rafa e Mayra foram embora, eu e o Xuxa nos preparamos junto com um casal de australianos para fazer a Volta do Cerro Huemul, uma trilha de quatro dias de onde é possível avistar o Campo de Hielo Continental Sur. Porém com cerca de quarenta minutos de caminhada no primeiro dia, o Xuxa começou a sentir dores muito fortes no estômago e tivemos que voltar. Estamos aguardando que os australianos nos enviem as fotos dessa caminhada.

Também nos interessou muito uma trilha que inclui um dia inteiro caminhando no gelo do Campo de Hielo Continental Sur desde o Paso Marconi até o Paso del Viento. Essa vai ficar para uma outra viagem, até porque exige equipamentos e conhecimentos de gelo que ainda não temos.

Cada um dos acampamentos gratuitos fica numa das extremidades da cidade. Dormimos a maioria das noites no Madsen que concentra o maior número de pessoas e consequentemente mais barulho. Depois da tentativa de fazer a Volta do Cerro Huemul passamos duas noites no Confluência que é muito menor, ocupado principalmente por quem viaja de trailer ou motor-home e que tem muito mais sombra. Além disso, desse acampamento é possível ver o Cerro Torre e o Fitz Roy. A escolha fica a gosto do freguês.

Com o passar do tempo descobri que Chaltén não é o lugar perfeito, apesar de muito bom. Na cidade não existe caixa eletrônico, quanto menos banco, e nosso dinheiro começou a acabar (alguns lugares aceitam cartão de crédito, mas de qualquer forma é bom ir prevenido com quase toda a grana que pretende gastar em mão); praticamente tudo é mais caro, além da oferta ser menor, do que nas cidades maiores da Argentina (é uma boa levar um bom estoque de comida, El Calafate é a cidade mais próxima com uma boa oferta de produtos); devido ao excesso de calor na época que estivemos por lá, uma alga se proliferou na água fazendo com que muitas pessoas ficassem mal do estômago (tínhamos hidrosteril mas não usamos por vacilo) incluindo a Mayra, Rafa e Xuxa (provavelmente foi por causa dessa alga que ele se sentiu mal no começo da trilha do Huemul). A junção desses fatores fez com que partíssemos do que para mim é um quase paraíso perdido.

Circuito Grande – Torres del Paine

Hostelaria Las Torres
No primeiro dia da caminhada, no local que o ônibus deixa para começar a caminhada.


Originalmente publicado em http://www.travelblog.org/South-America/Chile/Magallanes/Torres-del-Paine/blog-237739.html

Neste post pretendo colocar algumas informações sobre a caminhada que fizemos no Parque Nacional Torres del Paine. Espero que possa ser útil. Se alguém algum dia ler isso e utilizar como fonte de informação para planejar sua viagem me avisa por favor (rodrigosprimo em gmail.com) que ficarei feliz 🙂

Comentei por cima os equipamentos mais relevantes que utilizamos e também qual foi o trajeto escolhido. Muitas das opiniões refletem minha experiência de apenas nove dias no parque, aconselho buscar outras fontes de informação. A lista de equipos também não serve como checklist, falta um monte de coisas e tem um monte de checklists bons espalhados pela internet.

Caminhando na neve no Vale do Silêncio
Caminhando na neve no Vale do Silêncio

O Torres del Paine, localizado na Patagônia Chilena, é um dos principais e mais bonitos parques da América do Sul (e também o mais organizado e com a maior estrutura que já estive). Para minha infelicidade as trilhas são muito bem marcadas (as vezes até demais) o que tornou totalmente inútil o uso da carta topográfica e da bussóla, porém certamente essa é uma preocupação a menos para quem estiver fazendo suas primeiras trilhas. Uma pessoa tem que fazer uma esforço muito grande para se perder no W ou no Circuito (ou então dar o azar de pegar condições climáticas muito ruins, o que não é comum mas acontece). Para maiores informações sobre o parque veja http://es.wikipedia.org/wiki/Torres_del_Paine ou http://www.torresdelpaine.cl/

Optamos por fazer o “Circuito Grande” uma caminhada de 8 a 10 dias contornando as principais atrações da região. Desde o planejamento no Brasil esse era um dos momentos mais esperados da viagem. Nunca caminhamos antes com um mochilão com comida para tantos dias e também não sabíamos o que esperar do clima da região.

No final tudo deu certo, foram oito noites e nove dias de caminhada. A seguir descrevo os equipamentos utilizados e também o roteiro percorrido. Para o nosso planejamento utilizamos principalmente as informações deste site aqui http://www.i-needtoknow.com/paine/

Equipamentos:

No topo do Paso John Gardner com o Glaciar Grey ao fundo (muito vento!)
No topo do Paso John Gardner com o Glaciar Grey ao fundo (muito vento!)

Barraca: em alguns acampamentos do parque venta muito (como também em grande parte das trilhas), uma barraca com bons estabilizadores de vento e armação de duralumínio é uma boa idéia. No acampamento Pehoé vimos uma barraca com duas armações de plástico quebrarem por causa do vento. Utilizamos uma Discovery Mountain da Manaslu (a mesma que pretendemos usar no El Plata) e uma Zimba II da Kailash.

Sacos de dormir: em nenhuma noite fez menos do que 0ºC (provavelmente nem chegou a isso, mas não tínhamos termômetros para ter certeza), dormimos tranquilamente todas as noites em sacos de dormir de conforto 0ºC e extremo -15ºC da Trilhas e Rumos.

Isolante térmico: não saia de casa sem ele! Nas últimas noites do circuito sempre emprestávamos alguns casacos para duas chilenas que descobrimos estavam desde o começo da caminhada sem isolante.

Xuxa e eu com o Glaciar Grey no fundo
Xuxa e eu com o Glaciar Grey no fundo

Fogareiro: estávamos com dois fogareiros de benzina, um MSR Internationale e um Coleman Dual Fuel 533 (que por sinal parou de funcionar no meio da viagem com menos de um ano de uso). Muita gente estava com fogareiros comuns de cartucho de gás, muito mais baratos e davam conta do recado.

Mochilas: como optamos por carregar toda a comida para o circuito (o que não é necessário, nos acampamentos pagos é possível comprar comida para fazer ou então refeições prontas por um preço não muito mais caro que na cidade) utilizamos mochilas grandes (e ainda assim quase não deu para levar tudo): Harpia 75 + 15 da Conquista, Aircontact Pro 70 + 15 da Deuter, Highlander 50 + 10 da Curtlo e Challenger 85 da Kailash (que vive dando problema no ajusta da barrigueira). Dependendo do roteiro pode ser uma boa idéia trazer uma mochila de ataque. Também é indispensável ter uma capa de chuva para a mochila que consiga cobrir ela com toda a carga e esteja bem presa, cansamos de ver capas de chuva de mochila voando com o vento ou então deixando parte da mochila descoberta.

Pernilongos no Dickson
Pernilongos no Dickson

Botas: estávamos todos com botas impermeáveis (duas Trilogia e uma Zodiac, ambas da Snake, e uma da Quechua que não lembro o nome). Foi a primeira vez que fiz uma trilha grande com uma bota impermeável e gostei muito da sensação de não sair com os pés molhados das muitas travessias de rios e de alguns poucos pântanos. O único momento que foi realmente importante ter esse tipo de bota foi nos pequenos trechos de camihada no gelo no Vale do Silêncio, que não faz parte do roteiro tradicional do circuito. Havia muita gente fazendo a travessia com botas ou tênis comuns sem maiores problemas.

Bastões de caminhada: outro que entra para a lista dos equipamentos úteis mas não fundamentais. Venta muito em vários lugares do parque (ao ponto de as vezes as pessoas cairem) e nessas situações ter um par de bastões ajuda bastante, além de aliviar o impacto nos joelhos por todo o caminho.

Roupas:

Mirante no Vale Francês
Mirante no Vale Francês

Impermeáveis: durante as caminhadas é frequente em poucos minutos um Sol forte dar lugar para uma chuva as vezes fina, as vezes forte. Utilizamos a calça impermeável da Conquista e os Anoraks da Trilhas e Rumos e da Conquista, além das polaínas da Conquista. Os materiais impermeáveis feitos no Brasil não são muito respiráveis, no final do dia sempre estavam bem molhados por dentro, mas funcionam muito bem. Nunca usei algo como Goretex para ter uma idéia se faz muita diferença, tudo que sei é que são MUITO mais caros.

Segunda pele: bom para dormir e também para caminhar nos dias mais frios. Utilizamos as fabricadas pela Solo.

Fleece: um fleece 100 para caminhar e outro 200 para as noites no acampamento foram suficientes.

No último dia de caminhada
No último dia de caminhada

Outros: um gorro e pelo menos dois pares de luvas (um par resisente a água ou impermeável) são fundamentais para enfrentar o frio. Meias de coolmax são boas para caminhar e pelo menos uma meia quente para a noite. Sem falar também de camisetas de dryfit (acabei utilizando mais as de manga comprida para me proteger do Sol) e de calças-bermudas de algum tecido que seque rápido (não sei o nome).

Roteiro:

Optamos por fazer o circuito no sentido anti-horário (a opção mais comum) por pegar o lado mais fácil para subir ao Paso John Gardner, iniciamos pela primeira perna do W.

1º dia: De Puerto Natales até o Parque Nacional Torres del Paine são 3 horas de viagem, a passagem custa US$20 ida e volta. Chegamos na portaria Laguna Amarga por volta das 11h e pagamos mais US$2 por um ônibus até a Hostelaria Las Torres. De lá iniciamos a caminhada para o acampamento Torres, um dos campings gratuitos mantidos pelos guarda-parques com banheiro e lugar para cozinhar (sem chuveiro). Monamos as barracas e atacamos o mirador das Torres del Paine.

2º dia: Decidimos ficar mais uma noite no mesmo acampamento para atacar o Vale do Silêncio, fora do caminho tradicional, foi nesse lugar que caminhamos pela primeira vez no gelo e vimos as Torres pelo outro. Com certeza recomendo essa adaptação no roteiro tradicional.

3º dia: Caminhada de cerca de 6 horas até o acampamento Serón. Acampamento pago (US$7, o preço é o mesmo em todos os lugares de camping pagos) com direito ao primeiro banho da viagem.

Um surto de saudades do Kempo
Um surto de saudades do Kempo

4º dia: Caminhada tranquila, em grande parte ao lado de um rio e sem muitas subidas, de cerca de 6 horas até o acampamento pago Dickson. Ao chegar fomos recebidos pela maior população de pernilongos por ser humano que já vi na vida (ver a foto para ter uma idéia). Repelentes eram praticamente inúteis, o esquema foi fazer uma barreira física com roupas (em especial as impermeáveis). Havia um casal com telas semelhantes as que usam os apicultores, eles eram os únicos que conseguiam ficar tranquilos fora da barraca. Para compensar esse é um dos lugares de campings mais bonitos, ao lado de um grande rio e com vista para um glaciar.

5º dia: Este foi o dia mais curto da viagem, apenas 4 horas de caminhada até o acampamento pago Los Perros. Para quem tiver pressa pode ser uma boa idéia fazer num único dia do Serón até o Los Perros.

6º dia: Esse é considerado o dia mais difícil da travessia por causa da longa subida e depois longa e incrime descida do Paso John Gardner. São cerca de
Um surto de saudades do Kempo
Um surto de saudades do Kempo
3 horas montanha acima para avistar pela primeira vez o maravilhoso Glaciar Grey. No final do dia chegamos ao acampamento gratuito Paso.

7º dia: Uma caminhada bonita ao lado do Glaciar Grey sem grandes dificuldades até o acampamento pago Pehoé.

8º dia: Nesse dia fizemos uma caminhada curta de 2 horas até o acampamento gratuito Italiano, armamos as barracas e atacamos a trilha pelo Vale Francês. No final há um mirador de onde pode ser ver um cinturão de quase 360º de montanhas das mais diferentes formas, tamanhos e cores.

9º dia: 6 horas de caminhada até a Hostelaria Las Torres de onde pegamos um ônibus para Laguna Amarga e de lá de volta para Puerto Natales.