O vulcão Osorno fica próximo a cidade de Puerto Varas no Chile. A aproximação é muito fácil e rápida. Com “apenas” 2652m de altitude, chega-se de carro no local do primeiro e único acampamento, por uma estrada asfaltada e boa. É possível inclusive pular o pernoite, chegar de madrugada e já começar a ascensão. Além disso, a caminhada em si é rápida, em torno de sete horas ida e volta. Por outro lado, é uma montanha um pouco técnica. Sua ascensão inclui caminhada por glaciar e superar um pendente de neve e gelo de uns 50 graus.
Prelúdio
No começo de fevereiro, fiz, na companhia do Xuxa e da Carmen, um curso de escalada em gelo e travessia de glaciar (organizado pelas empresas Andes Ascenciones e Marumby) em Bariloche. Após nove dias de aulas práticas e teóricas queríamos ir para uma montanha onde pudéssemos aplicar o que havíamos aprendido. Daí que surgiu a idéia de ir para o Osorno, por sugestão dos instrutores do curso.
Em Bariloche, alugamos um carro e fomos para Ensenada, uma vila de Puerto Varas, cidade no lado chileno da Cordilheira dos Andes, ponto mais próximo do vulcão. Planejamos chegar no primeiro dia até a base, dormir uma noite e no dia seguinte subir. Porém, o tempo não colaborou. Das seis horas de viagem de carro, as últimas quatro foram sob chuva forte. Chegamos tarde em Puerto Varas e optamos por adiar em um dia a viagem.
Dormimos na cidade e no dia seguinte, debaixo de chuva, fomos até a base do vulcão (a estrada é de asfalto e está em boas condições). Lá existe um posto do CONAF (onde é necessário se registrar) e pelo menos dois refúgios. Um deles, mais movimentado, está sempre cheio de turistas que sobem durante o dia para apreciar a vista do lago Llanquihue e andar de telesilla (espécie de teleférico comum em centros de ski, não sei a palavra em português). Nos dois refúgios é possível conseguir comida e lugar para dormir.
A chuva seguia forte, ventava muito e uma nevoa reduzia a visibilidade para uns vinte metros. Do refúgio, famoso mirador do Osorno e do lago, não dava para ver absolutamente nada e a previsão do tempo para o dia seguinte era a mesma. Não podíamos esperar mais que um dia, pois a Carmen precisava voltar para Bariloche para seguir de ônibus até Buenos Aires, de onde ela ia tomar um avião de volta para o Canadá. O vulcão não queria visitas, voltamos para Bariloche sem nem sequer ver-lo.
A volta
Depois de alguns dias em Bariloche, eu e o Xuxa, decidimos tentar uma segunda vez, dessa vez de ônibus. Fomos para Puerto Montt e lá pegamos outro ônibus direto para Ensenada. Uma opção melhor é sair de Bariloche direto para Puerto Varas e de lá pegar um ônibus para Ensenada. Tanto de Puerto Montt como de Puerto Varas existe serviço regular para Ensenada, a vantagem é que de Puerto Varas, por ser mais próximo, a frequência é muito maior. Em Ensenada, contratamos uma pessoa (contato no fim desse post) para nos levar de carro até a base do CONAF no final da estrada que sobe a encosta do vulcão. Com um pouco de paciência é possível subir de carona, o fluxo de carros nessa estrada é grande, a maioria turistas.
Nessa segunda tentativa, podíamos ver o vulcão desde a estrada que leva para Puerto Montt, do outro lado do lago Llanquihue. Nada de nuvens e tempo perfeito. No CONAF fomos recebidos pelo guardaparque Iván, com quem já havíamos conversado há poucos dias atrás na primeira vez que estivemos na região. O Iván é uma pessoa atenciosa e disposta a ajudar. Preenchemos um formulário onde, além de colocar um resumo do nosso plano de subida, tivemos que marcar o equipamento que possuíamos. Dos itens solicitados pelo parque não tínhamos apenas um rádio VHF, mas não houve problema.
Além de ser possível, como já comentei acima, chegar de madrugada e subir o vulcão, quem optar por dormir uma noite tem algumas opções. Próximo ao CONAF existem dois refúgios, sendo que o refúgio Teski foi o que me pareceu mais aconchegante e tranquilo. Os serviços variam desde um local para dormir com seu próprio saco (9000 pesos no Teski) até quartos com café da manhã incluso. Quem preferir pode caminhar por cerca de duas horas e acampar num local chamado La Hoya. Essa não nos pareceu uma boa opção, primeiro porque implica em caminhar com o mochilão para encurtar apenas duas horas de uma subida que já é curta, além disso não existe água no local, é necessário derreter neve. Nós optamos por acampar ao lado da casa do CONAF. Apenas andinistas podem dormir nesse local e somente por uma noite. O maior incoveniente é que o parque solicita que a barraca seja desmontada antes de começar a ascensão.
No dia seguinte, acordamos cedo, tomamos café, guardamos as coisas e as 5h começamos a caminhada. Sabíamos mais ou menos a direção que deveríamos seguir, mas no escuro não encontramos a trilha exata. Em alguns momentos tivemos que subir pendentes maiores que o necessário até encontrar com o final da segunda telesilla. Talvez uma opção melhor seja começar a caminhar acompanhando as telesillas desde o seu começo que fica na direção leste do posto do CONAF. Até esse ponto demoramos uma hora e dez minutos. Então, contornamos um neveiro pela esquerda (pela direita havia uma trilha curta e bem marcada que leva até um mirador do vulcão) e seguimos por uma trilha também marcada que termina no início no glaciar, onde nos encordamos. Desde o nosso acampamento até o começo do glaciar seguimos predominantemente para nordeste. Do glaciar até o cume seguimos predominantemente para leste, isso implica em, no começo do glaciar, caminhar um pouco para a esquerda até encontrar com um filo e seguir por ele até o final. Para se localizar no glaciar, o mais importante é identificar a Ilha de Pedra, uma formação rochosa no meio do gelo que pode ser vista desde o CONAF, e se manter sempre a esquerda dela.
O glaciar estava tapado, vimos pouquíssimas gretas abertas e a neve estava bem consistente, o que facilitou nossa ascensão. Apenas a última parte da subida que é um pouco mais complicada, uma pendente de uns 50 graus. Cada um estava com um piolet de travessia e nessa parte final utilizamos a maior parte do tempo com a técnica do piolet apoio. Não é necessário levar piolets técnicos. Quando mais próximo do fim da subida, mais inclinado fica. Nesse pedaço algumas pessoas optam por escalar com corda colocando algumas ancoragens na neve. Levamos cinco horas e dez minutos desde a saída do acampamento até o cume do vulcão.
O cansaço da subida é recompensado pela maravilhosa visão do topo do vulcão. Impressiona o lago Todos Los Santos, que fica do lado oposto ao Llanquihue, com o Tronador no fundo e num dos cantos o vulcão Puntiagudo. Também é possível ver o Villarica e o Lanín, muitas outras montanhas e, atras do Llanquihue, o oceano Pacífico. A cratera do vulcão é completamente coberta pelo glaciar. Depois de um tempo descansando e comendo no topo, saímos em busca de uma caverna de gelo na face norte do vulcão. Essa caverna é um buraco no glaciar na forma de um cilindro de uns três ou quatro metros de diâmetro e uns bons metros de profundidade. No fundo é possível observar a parte rochosa do vulcão. Infelizmente, só depois que descemos descobrimos que é possível rapelar para dentro da caverna e caminhar no vão entre a rocha e o glaciar até uma outra saída na face leste. Não tenho a menor idéia como uma entrada cilindrica dessas pode ter se formado, gostaria muito de saber.
Depois de duas horas, entre o tempo parado no topo e a caminhada até a caverna, começamos a descer pouco depois do meio dia. Optamos por um caminho à esquerda da linha por onde subimos, seguindo algumas pegadas, na esperança de que fosse um pouco menos inclinado. O começo de fato era, mas a ilusão durou pouco. Acabamos descendo por uma parte aparentemente mais inclinada do que a nossa subida. O trecho inicial, como tínhamos que caminhar devagar, cravando bem o crampon, foi tão cansativo quanto a subida. Talvez nesse pedaço montar um rapel, além de mais seguro, seja inclusive mais rápido.
Passado esse trecho inicial, o restante da descida, tanto o trecho final do glaciar quanto as morenas até o refúgio, é bem tranquilo. Levamos 2:30h para descer, totalizando 9:45h minutos desde o momento que saímos do acampamento.
No estacionamento do refúgio mais movimentado, o Iván nos ajudou a conseguir uma carona para voltar para Ensenada. Nunca foi tão fácil pegar uma carona. Ele parava todos os carros que estavam descendo e perguntava se podiam nos levar. O terceiro carro que passou topou. De Ensenada seguimos de ônibus para Puerto Montt e depois Santiago, de onde voltamos para São Paulo.
Informações úteis
Dados para o GPS
Português
Castellano
English
Transporte de Ensenada para o início da trilha do Osorno
Rudy Plagemann
rplagemann@gmail.com
Celular: (09) 6956667
Casa: (065) 212070
Cobrou 20.000 pesos chilenos para nos levar e disse que faria ida e volta por 30.000 pesos
Guardaparque do CONAF no Osorno
Iván Barría Castro
ivanvolcanosorno@gmail.com
Celular: (09) 4038044
Mapas livres da Argentina e Chile para GPS
(incluindo estrada de acesso ao começo da trilha do Osorno)
http://www.proyectomapear.com.ar/
Outros relatos sobre o Osorno
http://www.summitpost.org/mountain/rock/152059/volc-n-osorno.html
http://andeshandbook.cl/default.asp?main=cerro.asp?codigo=40
Que legal que foi parar no vulcão de Osorno, Rodrigo! Estive no Chile essas férias e também tive a oportunidade de conhecê-lo, mas só até a parte que vai de carro (por enquanto!). O parque onde se localiza o vulcão é muito bonito e inclusive há um camping abandonado lá onde se pode acampar gratuitamente, creio, à beira do lago. Sua experiência de chegar ao topo deve ter sido linda, incrível o que são as montanhas… enquanto estava no Brasil não fazia idéia do que era essa sensação e em Bariloche (com a ajuda dos teleféricos, por enquanto) consegui chegar ao topo de uma montanha pela primeira vez e aquela visão foi uma das coisas mais bonitas que já vi na vida com certeza. Dá vontade de mais!! Quem sabe um dia com suas dicas eu chego lá 😉
Beijos
Jamila
Olá Rodrigo.
Em 2007, a Dani estava grávida do Gabriel e fomos (após acampar em Chiloé) a La Ensenada de ônibus, acampamos junto (mesmo) ao Parque Nacional Vicente Perez Rosales, por estarmos fora de temporada (março) não havia aluguel de nada, nem bicicletas nem cavalos.
Aproveitamos muito este cantinho de mundo aos pés do vulcão osorno. Nadei bastante no lago Llanquihue, fizemos altas caminhadas no Parque e fora dele, comimos amoras e murtas que as àrvores nos cediam, e váaarios küchen. Aqui dá para ir com a familia toda.
Quem sabe um dia nos encontramos por lá, desta vez vá sem carro!
Oi Rodrigo, que bom que encontrei o seu relato. Agora em Julho, vamos com a nossa família e queremos conhecer o Vulcão Osorno. Não sabia o quanto era complicado ou não para tentar fazer um tipo de ascensão em Montanha com as crianças.
Queremos introduzi-los no Montanhismo… Vc sabe se tem algum outro trekking menos puxado para a molecada? Super obrigada,
Gabi
Olá Gabi, não entendo muito de crianças e não sei a idade dos seus filhos, mas de fato o Osorno não me parece uma boa ideia para eles começarem no montanhismo. De qualquer maneira vale a pena ir até a base da montanha para conhecer. Se chega de carro até lá.
Naquela região tem o Tronador. A subida do vulcão em si é mais técnica do que o Osorno. Mas para chegar até a base tem que pegar uma trilha e subir bastante. Se vocês tiverem experiência ou quiserem contratar um guia dá para caminhar pelo glaciar. Tem um refúgio chamado Otto Meiling que é bem legal. Dentro do parque onde está o Tronador tem várias opções de trilhas.
Enfim, qualquer coisa me conta exatamente o que vocês estão buscando que vejo se tenho alguma sugestão melhor. Se querem uma trilha, se querem uma subida técnica.
Abraços, Rodrigo.
Muito legal!
Estou com um guia de viagem que estava me dizendo que a ascenção até o cume do Osorno estava proibida. Estou decidindo entre duas viagens de final de ano TDP, El Calafate e El Chalten ou ir de carro para o sul do Chile e passando pela região de Bariloche e 7 lagos. Subir o Osorno com certeza estaria nos meus planos, mas por enquanto só vi ser possível o Villarica e o Tronador. Você tem alguma informação que poderia me ajudar?
Muito obrigado.
Fala Leonardo,
As duas viagens são maravilhosas. Não sei em relação ao Osorno. Sugiro que entre em contato com o CONAF para mais informações: http://www.conaf.cl/
Ola
Voce tem o contato de algum guia local que faça a ascenção ao vulcão Osorno ?
Obrigado
Olá, Luiz. Infelizmente não tenho o contato de nenhum guia de lá.